Macumba
Afrânio de Castro (1931-1981)
Lua cheia
Floresta grávida de luar,
São Jorge Guerreiro galopa
nas pradarias silentes do Astral.
Árvores violadas pelos ventos
Arreganham o terreiro adormecido.
Há um simulacro místico – a natureza
Veste-se de roupagens faiscantes.
Acorda agogô o lamento negro
Narrando a saga primitiva da raça
Banzando um queixume esquecido do preto
na escravidão das senzalas.
Ao som do luar
Nasce a magia nostálgica
Das eras primevas – falam tantãs
e atabaques – a voz antiga de Xangô,
cantando, chorando, a desdita do povo africano.
A poeira evola do chão aquecido
Pelo suor da gente sofrida,
orixás e exus possuem pais-de-santo, -
os cavalos de Ogum.
O frenesi do fetiche do lundu
ululante
seduz dos iniciados ardendo cachaça
e catimba
os possessos em transe exortam
despachos
mandingas.
Lateja o batuque visões dos Palmares
na pele da noite tatuada de Dor...
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